Uma leitora do blog – e é meio estranho chamar de leitor as pessoas anônimas que vem cá ler meus chorinhos de alguém tão anônima quanto – me recomendou uma autora x que posta na internet crônicas anti-homem. Tal escritora publica (com até relativo grande público) ideias de que o patriarco estabelece que todo homem mente, trai, é um merda e eventualmente, abandonará a mulher quando a mesma não for útil. Embora as minhas expectativas com o gênero oposto sejam extremamente baixas e eu entenda bem o papel nocivo do patriarcado em cada esfera da minha existência, eu fiquei meio boquiaberta com tanta amargura.
Porque o foco ali não é debate das estruturas e papéis, desafiando o patriarcado. Não é um alerta de construção de relações saudáveis rompendo os limites impostos pelo patriarcado – confiança, acesso, diálogo, vulnerabilidade e compromissos. É literalmente ter o homem como ruim, e não como humano, que erra, acerta, aprende e melhora (e inclusive pode crescer melhor criado e com menos traumas – tem gente mais lixo e menos lixo nessa vida). Ela define todo homem como alguém que é intrinsecamente contra a mulher, independente de quem seja, e não como alguém que erra e melhora.
E olha que eu venho de uma parcela de homens lixos. Meu dito pai é um ser difícil e meu namorado acabou de me trair longamente com uma pessoa em outro país – rere. Merda de 2020.
Mas eu também vejo meu pai, imperfeitíssimo, vendo que somos mulheres fortes e se arrependendo – e agora é tarde – de algumas escolhas. Vejo o meu companheiro tentando reconstruir a confiança que ele abalou, está fazendo terapia, estamos conversando mais e tentando entender tudo.
E essa segunda chance não necessariamente me faz uma mulher vulnerável. Eu e ele somos financeiramente independentes e minha vida segue basicamente muito igual, com ou sem ele. Meu “perdão”, que não passa por perdoar a traição, mas por dar uma segunda chance a um relacionamento de seis anos no qual eu fui feliz, é uma escolha. E se eu terminar porque esse relacionamento não funcionou, será outra. Não faz de mim vítima, e nem necessariamente ele vilão, porque o mundo não é preto ou branco. Mulheres inclusive também traem, têm problemas emocionais, enrolam os pares, etc, conheço várias. O trauma nem sempre vem do patriarcado, embora ele seja sim PODEROSO.
Mas um relacionamento é feito de pessoas, únicas, com medos e coragens, personalidades e histórias variadas. E no fim se proteger do lobo-mau tem mais a ver com você sendo mais cuidadosa, se respeitando mais, impondo limites, não confiando cegamente, não sendo ong de homem (alô twitter, essa é direto dos ensinamentos da @naoinviabilze, não se permita ser financeiramente vulnerável a homem safado) e tentando construir com o seu par um relacionamento de diálogo, afeto e confiança, do que em se fechar às possibilidades de ser feliz com alguém.
Enfim, cara pessoa que me recomendou tal “autora”, você escreveu assim “talvez te ajude a refletir melhor”. Ajudou. Reflita também. É mais fácil a autora ser golpista e ganhar nos likes das minas de coração partido do que todo homem querer necessariamente te passar a perna.
Beijinhos da corna que ainda acredita no amor (e talvez eu esteja errada sobre esse amor, mas oh well,faz parte),
Alice