Quando morei fora, eu praticamente não tinha que cozinhar para mim mesma. Espertamente, conseguia fazer com que meus rommies me dessem comida, e em troca eu lavava louça. Justíssimo.
Não era nem preguiça. É não gostar. Estar enfurnada na cozinha não me traz alegria, não me dá tesão. Não quero inventar coisas novas, descobrir sabores novos. Lavo louças sempre. Sem muito sofrimento.
Cheguei aos 32 anos sabendo fazer pipoca, tapioca, brigadeiro, macarronada e risoto (óbvio que sei mais coisas que essas, mas né, nada que seja a base de a alimentação de alguém). Pois bem, só que a bonitinha aqui foi morar solo mesmo. Não tem charminho nem não saber cozinhar que me salvaria da minha necessidade fazer a própria marmita.
(Um pequeno intervalinho: vocês sabem que gente magra tende a fazer coisa de gente magra, né. Magrinhas muitas vezes adoram esportes e comem mais saudavelmente por gosto, diz a regra (ó, tem exceções). Uma amiga também não sabe cozinhar e sempre morou sozinha. “Como você faz?”, perguntei espantada. “Saladas e omeletes”, ela disse. AH VÁ QUE EU VOU VIVER DA SALADA A OMELETE).
Mamãe e irmã, fofas, fizeram para mim um vasto livro de receitas, com as que mais eram feitas lá em casa. Foi tudo escrito à mão (amor mesmo), e com dicas e comentários. Ensina desde fazer arroz, passando por temperar carne, até fazer pratinhos mais elaborados. Salvação.
Dominado mesmo, estou com o arroz. Ontem me aventurei pela primeira vez pela panela de pressão pra fazer feijão e variei entre crises de pânico e ligações pra mãe “é assim mesmo?”.
Já me sentindo vitoriosa, refogando o feijão, eis que o fogão de acedendor elétrico entra em curto. Isso mesmo. Crec crec crec infinitos. CARALEO. Pensei que a casa fosse explodir, não entendi no primeiro momento que passava. Desliguei a chave de luz e chorei copiosamente. Depois, sob orientações maternas, desliguei o fogão na tomada e terminei o feijão normalmente.
Vou ter que chamar assistência técnica.
Tá difícil morar só.