No trabalho antigo eu fazia a gestão de projetos de empregabilidade. Num deles, provavelmente meu favorito, a gente capacitava os meninos em tecnologia ou administração e depois eles participavam de projetos seletivos numa grande empresa. Tinhamos 75% de alocação lá e 100% na alocação em outras vagas de trabalho e/ou continuidade nos estudos.
No trabalho atual tem um projeto parecido, só que eu sou grande empresa. Os resultados desse projeto são muito ruins, enquanto os do outro eram muito bons. Acontece que que aqui, se fala em meritocracia, já no outro, era oportunidade. De 96 capacitados, contrataram 8. É que competiram pelas vagas com dois mil e seiscentos outros e teve prova de conhecimentos gerais e Excel.
Os egressos do projeto, jovens de baixa renda com ensino médio de escola pública no interior, competiram com universitários de classe média, pessoas com nível cultural, social e educacional mais alto que o deles. Sugeri a criação de cotas e tratamento diferenciado para esses jovens de baixa renda. Era assim no outro projeto e dava muito certo. Precisa de mentoria, precisa de aceitar o gap educacional e saber que eles vão compensar com esforço e com valorização da empresa. Mas minha chefe disse que não, que isso não é meritocracia, “o mercado não vai tratá-los com diferença”, e eu pensando que quando uma empresa dessas faz um projeto social assim, era para tratar diferente do mercado e dar chances a quem não as têm.
Meritocracia é uma plavra engraçada, né. Normalmente quem usa esquece que nem todo mundo tá nivelado.