Vim numa viagem a trabalho cheia de pessoas bem mais importantes do que eu. Em determinado momento minha chefe conta orgulhosa a maneira ousada com que me candidatei para esse emprego:
"Ela disse: todas as minhas experiências me prepararam para essa vaga. Recomendo a mim mesma".
Todos riem. Eu sorrio orgulhosa.
Não fui tão direta assim, mas definitivamente me disse pronta para a função. (Usei um "surpreendentemente" antes de me auto recomendar também).
Vira e volta me questiono se estou tão pronta assim. Cumprirei todas essas expectativas? Porque eles parecem esperar muito de mim. (Acho que eu prometi um pouco, afinal de contas).
Também não sei de onde saiu a coragem de abandonar a minha muito estável função e mudar da minha maravilhosa casa, da minha querida cidade, de meu estimado estado. Tem vezes que olho pra minha vida e penso se é isso aí mesmo. Sou a mesma Alice que choramingava nesse mesmo blog meses atrás?
É que eu realmente precisava de mudança. E mudei radicalmente.
Já mudei, radicalmente também, duas vezes antes. Essas vidas longe de BH sempre se parecem mais ao sonhos, por serem bonitas e distantes. Não se assemelham à vida normal, quem eu sou "de verdade", mas intervalos que tirei da Alice cotidiana e fui descobrir a mim e ao mundo.
Tenho um mês de Bahia, completos, ironicamente, comigo fora dela. Tenho 32 anos e finalmente não sinto que estou devendo a mim mesma. Parece que alcancei em um só suspiro sonhos que nem tinham virado planos. Toda essa minha vida não planejada, no entanto, foi escolhida. Me aconteceu e também fui eu quem a fiz acontecer.
Sei que isso é parte dos meus inúmeros privilégios: poder escolher ser quem eu queria, mesmo me perdendo às vezes (e tendo tanto suporte para o meu reencontro). Venho construindo uma carreira muito feliz, com empregos que impactam positivamente o mundo e ações que eu verdadeiramente acredito. Estou orgulhosa de cada um dos projetos que tenho abaixo de mim.
Me lembro quando aos 17 anos eu verbalizei pela primeira vez que queria estudar Relações Internacionais. Achei que era o curso que mais me poderia fazer conseguir mundar o mundo.