Estamos, meu bem, por um triz

Meu maior medo, entre todos, é de, em algum momento, aceitar amor de menos. Que num medo de ficar sozinha p-a-r-as-e-m-p-r-e eu decida aceitar alguém que não seja pra mim. Ou alguém que me ame menos do que eu mereça ser amada (e reflita isso me tratando de maneiras que eu não mereça ser tratada), ou até mesmo que eu aceite estar com alguém que eu não ame (e reflita isso tendo uma vida completamente desprovida de amor).

Imagina passar a vida inteira com alguém porque ele “é bom o suficiente?”. Quem quer uma vida só de suficiente? Ou então a vida com alguém que é “bom pai”, se pai você já teve o seu. Ou a vida com alguém que paga as contas, sendo que você tem todo esse cérebro ai para prover pra si mesma? Não.

Tenho mais medo disso do que de, de fato, ficar sozinha para sempre. Porque né, a gente meio que se acostuma a dar conta de nós mesmas. Não há agressão maior do que aceitar e ficar num mantra de autoconvencimento que que amor é isso ai mesmo, menos. E que o resto é filme e livro. Não é, te juro. Pode ser que a vida não tenha Mr. Darcys parados na esquina, mas você se lembra daquela vez que seu coração tinha taquicardia só de ver aquela pessoa? A gente precisa de um amor que já tenha sido assim.

Se eu pudesse fazer uma coisa pelas mulheres que eu conheço, seria convencer a todas que a gente não merece amor de menos. Que a gente precisa ter um amor enorme, grande, por nós mesmas, forte o suficiente para queremos e desejarmos apenas a felicidade. Que ficar sozinha pode assustar, mas não assusta tanto quanto uma vida escondida atrás de alguém que representa o amor de menos.

O primeiro amor da gente tem que ser nós mesmas. E daí com tanto amor, sobra muito pouco espaço para qualquer amor de menos.

Mas o amor compensa

Eu já sabia que ela está bem velhinha, mesmo. Às vezes ficava dizendo bem baixinho, só pra ela, que era muito grata à sua existência e que a amava muito, e hoje fico bem feliz de ter feito isso tantas vezes. Bem como estou muito agradecida por ontem ter tido a oportunidade de dar um beijinho naquele focinho.

A parte mais difícil de acordar no dia seguinte é saber que tem menos amor no mundo. Essa vida já tão sem amor, agora com menos amor ainda. Em inglês eles dizem, “home is where the heart is”, algo como “nosso lar é onde nosso coração está”, então é bastante verdade dizer que eu agora estou um pouco sem casa. É essa vida, mais uma vez, obrigando a seguir apesar de.

And I must be a little bit too bruised

É daquelas coisas que, caso tivesse que ser explicada a razão, culparíamos o sexto-sentido. Eu tava lá de boa e resolvi clicar naquele link. Aquele que eu cliquei tantas vezes por tantos meses tentando desvendar qualé-que-tava-sendo. E pela primeira vez, dessa vez, quando já é tão passado, achei uma resposta.

Uma foto, com a mão dela na perna. Tava lá, eu vi. Agora fica só a dúvida: era eu a outra ou era eu só um intervalo entre ela e ela mesma?

Por via das dúvidas, fechei o navegador rápido, desliguei o computador e me sentei na sala de visitas como quem nunca ficou consciente que existe vida apesar de mim.

(e naqueles masoquismos tremendos, te pergunto baixinho: o problema tava comigo?)

Eu estou sempre insegura

Me escuta bem: eu não quero mais amigos. Sério mesmo, não quero. Eu tenho um monte de amigos já. Suficientes, eu diria. Pode acreditar em mim. Assim sendo, não preciso de você pra ocupar esse papel.

Olha, eu sei que essa notícia parece um tanto quanto dramática, mas falo bem sério. Tenho companhia para todos os shows que quero ir, todas as cervejas que desejo tomar, todos os jantares que quero comer, todos os brigadeiros que quiser fazer. Tenho amigo pra chorar, pra rir, pra beber todas, pra ir na missa, até esses eu tenho. Eu estou sendo bem sincera, eu tenho amigos, me entenda bem, que vão passar uma hora no telefone comigo só pra saber de mim. Tenho amigos que saem do velório da avó para ir ao meu aniversário porque gostam tanto assim de mim. Tenho amigos gays, tenho amigos héteros, tenho meninas, tenho meninos, tenho da escola, tenho da faculdade, tenho do trabalho, tenho em outras cidades, tenho em outros países, tenho muitos aqui, tenho toda variedade de amigos, até cruzeirenses eu aceito.

Ou seja, não tem vaga pra você. Por favor, se retire ou ocupe um papel desocupado.

I will grow my own trees

Image

Eu vi minha vida ramificando-se diante de mim como a figueira verde da história. Na ponta de cada galho, como um figo gordo e roxo, um futuro maravilhoso acenava e piscava. Um figo era um marido, um lar feliz e filhos, outro era uma poetisa famosa e consagrada, outro era uma professora brilhante, outro era a Europa, a África e a América do Sul, outro era Constantino e Sócrates e Átila e outros vários amantes com nomes exóticos e profissões excêntricas, outro ainda era uma campeã olímpica. E, acima de tais figos, havia muitos outros. Eu não conseguia prosseguir. Encontrei-me sentada na forquilha da figueira, morrendo de fome, só porque não conseguia optar entre um dos figos. Eu gostaria de devorar a todos, mas escolher um significava perder todos os outros. Talvez querer tudo signifique não querer nada. Então, enquanto eu permanecia sentada, incapaz de optar, os figos começaram a murchar e escurecer e, um por um, despencar aos meus pés.

Sylvia Plath – A Figueira (The Fig Tree)

Except everything you did and what was left after that too

Quando eu era criança, entrava na roda das pessoas rebatendo bola e ficava sorrateiramente perto de alguém fominha, porque ai a bola nunca chegava em mim. Duma vida de auto-sabotagem crônica, dava eu ali o ponto de partida.

Assistir as coisas de longe sempre me pareceu bem mais seguro.  A arte de não jogar com a vantagem de não se machucar. Eu sei, eu sei. Em tese a “emoção” do momento compensa o risco. Quanto maior o risco, mais altos os lucros.

Mas quanto mais alto se vai, maior o tombo.

E AI, COLEGAS DA NAÇÃO BRASILEIRA, ME CONTEM UMA COISA: fiquemos com um eterno não agir ou vamos logo meter os peitos e tem a coragem pra jogar esse joguinho (que devido à anos de omissão, sou patinha)???

 

ps: eu sei. Jogo é jogo e treino é treino. Num sentido básico de ver a vida como treino, aberto ao erro, pra na hora do jogo, enfim, estar pronta. Tenho a resposta. Só falta ligar o botãozinho (que tá escondido em várias camadas) de quem “e daíiiiii se der erraaaado, não vou morrer com isso).

Chega de Fiu Fiu: resultado da pesquisa

Porque se eu falasse disso sozinha, o mais provável é quem lesse logo pensasse “gorda” ou “mal comida”.

[outro dia eu li, por alto, algo como “moça, não chame outra mulher de puta”. Isso significa que nós mesmas reforçamos o comportamento machista da sociedade, no qual julgamos uma mulher por comportamento/maneira de se vestir, como se isso a desqualificasse ou significasse que ela ~tá pedindo~ algo de ruim acontecer].

Olga

Ninguém deveria ter medo de caminhar pelas ruas simplesmente por ser mulher. Mas infelizmente isso é algo que acontece todos os dias. E é um problema invisível. Pouco se discute e quase nada se sabe sobre o tamanho e a natureza do problema. Para tentar entender melhor o assédio sexual em locais públicos, a Olga colocou no ar, em agosto, uma pesquisa elaborada pela jornalista Karin Hueck, como parte da campanha Chega de Fiu Fiu. Contamos com 7762 participantes e 99,6% delas afirmaram que já foram assediadas  – um número tão alto que já dá a ideia da gravidade do problema. Veja abaixo o resultado:

Onde você já recebeu cantadas? (era possível selecionar mais de uma opção)
Na rua  98%
No transporte público  64%
No trabalho  33%
Na balada  77%
Em lugares públicos: parques, shoppings, cinemas  80%

olga onde ja recebeu cantada

Você acha que ouvir cantada é algo legal?
Sim 17%
Não 83%

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Quem acredita sempre alcança?

É dever moral meu vir aqui e contar que chefe-mirim pediu demissão.

Após o rufar dos tambores e o soar das fanfarras, conto pra vocês que, na verdade, tenho pensando muito mesmo nela. Não porque tenha passado novos perrengues, não mesmo. Só que é bem ruim você estar indo pra cozinha, ver alguém sentado lá e simplesmente não entrar porque né, conviver com os monstros, não pratico.

Estou fazendo um curso e esse módulo foi sobre “mediação de conflitos” no qual tínhamos que dividir um conflito nosso (pois alguns dos conflitos foram escolhidos pelo grupo para serem trabalhados). Obviamente, escolhi esse sobre o qual vos falo. Meu conflito não foi escolhido por motivos de: ele mora dentro da minha cabeça. Tivemos nossas rusgas, brigas, discussões, enfrentamentos, disputas, fui embora chorando, fiz ela chorar e finalmente mudei de área. Daí existe há quase um ano essa vida de guerra-fria, de gente que não se resolve, mas também não quer se resolver.

E mesmo assim, um ano depois, eu lá contando ainda me deixou sem fôlego, agitada, mexendo muito as mãos e falando alto. E eu terminei o relato com “e eu só queria que ela deixasse de exitir”. Um ano depois e eu ainda reajo assim. É meio decepcionante. Sério. Cadê maturidade?

(a pessoa que chama outra de arqui-inimiga e por uma apelido que 80% das pessoas com quem eu convivo reconhecem querendo maturidade. SINCERAMENTE, ALICE).

Pensei, pensei, pensei. E percebi, finalmente, porque eu faço isso. Porque me prendo tanto nesse rancor gostoso sofrido. Acontece, e muito seriamente falo isso, que eu o fazia por ego, puro e simples. Pois é. Você pode pensar ai que sempre soube. Mas a realidade é que só agora percebi que quanto mais jogava chefe-mirim pra baixo, melhor eu me sentia. E o insucesso dela era um grande “aha, sempre soube, tá vendo?”. E uma auto-afirmação tremenda a cada nova pessoa que entrava na equipe e em poucos meses ia embora PORQUE NINGUÉM AGUENTA ESSE SER HUMANO!!!

Mas a realidade é que para largar esse azedume, devemos humanizar chefe-mirim. Ter 21 anos e ser posta em um cargo de chefia, não reconhecida por seus iguais, sem apoio de um RH, sofrendo preconceitos dos subordinados, pouco capacitada e quase nada experiente. Não foi fácil pra criança. Não foi.

Mas ai ela vai embora. Então acabou drama, acabou churumela .

Crescer, às vezes, não é um caminho tão linear.