Eu me atrapalho sempre

Confissão: fugi da terapia.

Na época mais fudida, ferrada, perdida e atribulada do ano, essa na qual fiquei de cama por dores imaginárias, segurei choros e surtos por dores reais, fiquei sem sair de casa por preguiça da vida e estou aqui aos trancos e barrancos tentando superar.

Nessa fase, exatamente nesse momento sombrio, comum na vida de qualquer pessoa com tendência a oscilação de humor e mais comum ainda na vida de quem sente um pouquinho demais… estou há mais de mês sem ver a senhora minha psicóloga. No período em questão me autodiagnostiquei – sempre erroneamente – com depressão, diabetes, pressão alta, obesidade mórbida, tendência ao suicídio, completamente quebrada – financeiramente e moralmente, desemprego, desamparo, injustiçada, coitada, solteira para sempre, infeliz até que diga chega, futura vizinha louca que mora com a mãe idosa e 18 gatos.

Nesse período *TOP* ainda tive o comportamento mais imbecil de todos os tempos: a terapeuta ligava e eu não atendia. Até que ela apelou e mandou um email perguntando se meu telefone tava quebrado e perguntando se eu queria ir lá num sábado.

Eu disse que ia. Mas desmarquei, minutos antes. Depois, na semana seguinte, disse que ia de novo, mas desmarquei na noite anterior por causa de uma visita de uma amiga (mas durante o horário da sessão estava sentadinha na minha cama assistindo, vagarosamente, o tempo passar até dar a hora de ver a amiga). Ai ai.

Não tá nada fácil ser responsável pela minha saúde mental.

Eu disse pra me esperar, mas eu menti

Foi depois de uma festa de aniversário que eu virei uma noite conversando com você. Nessa época, há 8 anos atrás, eu tava bem muito apaixonada por um cara que não me queria. Eu te contava tudo, todas as sms, ligações e históricos de msn (êee 2006)  daquele amor que não era e nem ia ser, mas que eu insistia.

– Se ele me manda sms às 3 da madrugada todos os dias, é porque ele gosta de mim?

– Se ele posta coisas para mim no fotolog com frequência, é porque ele me quer?

Você dizia que sim para todo, mas na verdade ele só deveria ter insônia e um pouco de tédio.

Num furor desesperado, você me incentivou a me declarar antes de eu ir para o intercâmbio, e foi todo braços e abraços quando eu voltei com um fora . E daí foi você que veio, não tão desesperadamente, me ver antes de eu ir embora.  Eu, desajeitadamente como os meus 21 anos me permitiam ser, te dei um fora com uma carta de amor, muito das filhas da puta, de 6 páginas, pedindo para você me esperar. Um clássico sadismo: não gosto de você, mas gosto que você goste de mim.

Mais filha-da-putamente ainda eu fui quando, apesar dos e-mails frequentes que trocávamos, um dia te respondi dizendo que você não deveria me esperar, porque eu estava vivendo minha vida. E daí pode se dizer que tudo acabou entre nós.

Para todo o sempre, a partir daí, eu não importei mais para você, embora devo confessar que, a partir daí, eu sempre me lamentei um pouquinho (como sempre faço com todos os caras ótimos que deixo passar) de ter aberto mão, tão displicentemente, de quem se dispôs a me esperar.

Quando me aproximei das minhas –até hoje – amigas, você não curtiu. Eu era mais malvada com elas. Eu ficava bêbada com elas. Eu não era aquela Alice com elas. E daí meteu aquela clássica melhor frase de todas, “boa sorte nas suas escolhas”, enquanto se despedia de mim  antes de eu entrar no taxi – em que todas elas já estavam dentro.

Daí o contato foi acabando. Esvaindo. Apagando.

Você mudou de cidade atrás da namorada. Eu só achava, de muito longe e sem direito de me meter, ela malvada.

Você ficou noivo dela. E eu só achava, com um certo recalque, ela muito magra.

Daí eu fui pra cidade onde você mora. Fui pra lá mês passado. Mandei mensagens querendo te ver. Você me ignorou. Masoquista como me apresentei no primeiro parágrafo, uma vez na mesma cidade, regada à alguma cerveja, te pedi para me ver. Disse que tava ocupado.

Agora você se casou.

Então. Parabéns. E apesar de você não ter feito parte das minhas escolhas, e eu também não ter feito parte da suas, espero que você tenha muito boa sorte. Mesmo com ela tão malvada. E magra.