Isso ai é uma frase de um poema do Leminski.
No mesmo livro, se acha o seguinte verso:
Tudo me foi dado.
Nada me foi tirado.
O que um dia foi meu
nunca vai ser passado.
Há dias venho conversando com a minha mãe. Conversas com coisas nunca ditas antes, com sinceridades nunca faladas. Sem as repetições eternas, sem o fim que nunca vinha.
Ela me disse centenas de coisas dela, que eu nunca soube, que talvez se eu soubesse antes, teria me ajudado a entender mais cedo. Tem sempre a questão do “se fosse mais cedo, você não estaria pronta pra entender”, então tá, estou aqui respeitando o tempo.
Ontem eu cheguei e pedi para minha mãe ler um texto sobre “empatia positiva”, do Carl Rogers, porque eu acho que nessa casa sobra julgamento e se falta respeito com os problemas alheios. A resposta dela foi um “sei não, viu”? Depois expliquei que não estou pedindo menos pressão, nem menos preocupação, nem uma postura passiva, ou nada disso. Eu só queria um pouco de comunicação. E hoje ganhei.
Ela me disse que a vida inteira ela só quis nos tornar mais fortes, independentes e isso era porque ela se sentia fraca. Ainda me disse que nem sabia que era fraca, mas que só percebeu que era de tanto eu bater na mesma tecla de “porque você não pode fazer as coisas sozinha?”. E daí ficam essas coisas invertidas, nas quais muitas vezes eu sou mais mãe dela do que ela minha.
Mas sabe, essa coisa toda já não me dói mais. Ser forte, independente… é bom, no final das contas. Levar na cara e dar a outra face, cair e levantar, cair e levantar de novo, ter coragem de decidir sozinha – sempre sozinha – e arcar com as conseqüências das decisões. Isso tudo quem me deu foi essa criação. Doeu. Eu vivo pensando que deveria ter sido mais protegida. Eu vivo pensado que deveria ser mais entendida. Mas no fim foi a auto-reflexão que me ofereceu todas as respostas. Todas as soluções vieram aqui, de mim. E no final, dizer que vou chegar onde chegarei – porque agora tenho destino e meta – e que pra isso só dependi de mim, vai ser um orgulho meu. “Milagre, a lágrima pára”. Parou.
Outro dia me disseram “nossa, você tá com uma energia tão positiva” e minha vontade foi responder -e nem sei mesmo se não respondi- um sonoro “EU SEI!”. Vou me tornar daquelas insuportaveis que reconhecem o esforço próprio e tomam elogio como reconhecimento de todo o trabalho envolvido em desenvolver e crescer.
Mas no final, as dores todas… tantas delas escritas aqui com todo o drama que me coube – e ainda me cabe fazer, porque asi soy yo– foram quem me trouxeram aqui. Que me ensinaram, que me guiaram, que me conduziram. Então sou grata, pai, por você ter me magoado tanto. Porque sem isso eu não teria nunca aprendido a me respeitar mais do que respeito à vocês. Obrigada, Nelly, por não ter me oferecido qualquer feedback positivo, porque sem a falta deles talvez eu nem tivesse percebido que no final das contas, os merecia. Obrigada, vocês todos, seus babacas, por terem me quebrado o coração uma centena de vezes, porque sem isso eu não teria me dado conta de como eu posso sim fazer melhor. “O que um dia foi meu, nunca vai ser passado”.
Leminski, seu gênio!
ps: Porra, muito auto-ajuda esse post.
Desculpa-ê.
Tô numa fase reflexiva.
Depois voltamos pros mimimis de sempre e necessários.
(bendita psicologia – ai que quem acha que é baboseira {o que só pode ser coisa de quem não lida com os próprios demônios, só empurra pra frente, guardando mágoa, trauma e rancor… não sou dessas. SOU RESILIENTE, LEMBRA?}),